quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A dimensão utópica da poética Craiguiana


Por Lucila Andreozzi e Raquel Serradas

Edward Gordon Craig (16 de Janeiro de1872 – 29 de Julho de 1966) filho do arquiteto Edward Godwin e atriz Ellen Terry, cresceu dentro do teatro aprendendo a interpretação de Shakespeare com Henry Irving. Em seu caminho de ator, cenógrafo e encenador preferiu peças com grandes curvas dramáticas e reviravoltas transformando-as em luz e espaço.

Em seu livro “Da Arte do Teatro” Gordon Craig escolhe começar o capitulo “O Actor e a Sur-Marionete” com uma frase de Eleonora Duse: “Para que o Teatro se salve é preciso destruí-lo; que todos actores e actrizes morram da peste... Eles tornam a Arte impossível”. Demonstrando assim a sua opinião sobre o teatro e a atuação de sua época e o tamanho da mudança necessária para a sobrevivência do teatro.

Os atores são alvo das maiores criticas de Craig. “Um ator que se entrega aos seus impulsos não pode ser mais considerado como um instrumento confiável”. A critica ao ator de sua época vai mais longe, questionando se o que este faz é arte, já que o este impregnado de emoções e não atinge a pureza do que ele considera arte.

“A teoria da supermarionete questiona a presença do ator, do corpo como matéria artística, a referencia do marionete, do boneco, não é do títere mas de figuras feitas “ á imagem de Deus”, imagens de ídolos, que não tinham necessidade de fios e manipulação para expressarem algo, é a relação com o sagrado.Sendo um corpo não humano está esvaziado de vaidades e emoções, sendo assim, livre para poder estar dentro da arte da encenação.

Os projetos e encenações de Gordon Craig trabalhavam com a idéia da Caixa preta do palco italiano transformando-o em uma caixa mágica, através da iluminação e da cenografia tornando a encenação uma obra de arte plástica, rítmica que deve ser admirada e adorada pelo seu público. E a frontalidade do palco italiano favorece essa relação.

A cenografia era o que dava o poder expressivo ao espaço tradicional da encenação, no lugar dos telões de fundo com castelos, cidades ou paisagens entraram os screens (biombos) como prolongamento da arquitetura, que era a imagem cênica em movimento.

Busca desenvolver uma técnica cenográfica com formas não-imitativas que possibilite manter a continuidade do espetáculo e permita a intervenção do diretor a qualquer momento, tais como rampas e passarelas. O palco dividido em tabuleiros que podem ser trabalhado em vários níveis e transformado com a utilização da iluminação.

A luz agora era projetada do fundo da sala e do urdimento e não mais apenas luz de ribalta possibilitando a profundidade da cena, o movimento e o jogo de contraste de sombra e luz, tornando-a uma linguagem cênica. Tanto a cenografia como a iluminação de Craig tiveram forte influência de seu contato com a xilogravura.


A considerada grande utopia de Craig, era a de que o espetáculo deveria ser em si uma obra de arte, que tudo que o formava não deveria ter importância maior ou menor, isso porque o teatro de sua época tinha como ponto central o texto. Muito influenciado por Wagner e sua obra arte total (que integra poesia, musica, pintura e arte do ator), queria ele também a grande obra de arte, mas o seu foco era na encenação e para a organização desta, surge à figura que Gordon Craig chama de régisseur pra nós o equivalente ao encenador.

Podemos afirmar que de alguma forma as proposta de Craig em grande parte foram e são realizadas, no decorrer da historia do teatro até hoje.Os corpos dos artistas criadores que não se expressa apenas com palavras, encenações em que truques de luz e cenário modificam toda a atmosfera do espetáculo e o publico que participa intelectual e as vezes ate fisicamente do espetáculo ( o que para Craig seria demais, sendo ele um encenador que presa pela ilusão), ele foi o ponto de onde germinaram mudanças significativas para o teatro.

Bibliografia

BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro
CRAIG, Edward Gordon. Da Arte do Teatro
ROUBINE, Jean Jacques. A linguagem da encenação
ROUBINE, Jean Jacques. Teorias do Teatro

O registro e a troca

Este blog será um diário, relato, registro das pesquisas e discussões realizadas no Núcleo de Estética Teatral, História do Teatro, da Escola Livre de Teatro, coordenado por Antônio Rogério Toscano.

Na próximas postagens serão registrados os textos criados pelos próprios alunos no segundo semestre de 2008 numa pesquisa que une o estudo de "Teatro pós-dramático", de Hans Thies Lehmann e do estudo das linguagens da encenação teatral no século XX que culminaram neste teatro contemporâneo.